Um engenheiro de Software que chamaremos de John ao visitar a Disney teve uma surpresa quando durante o passeio foi lhe oferecido para compra uma foto dele com sua namorada já com os dados de seu cartão de crédito prontinhos para serem usados. John não havia informado seu nome a ninguém no parque, nem que tinha namorada, e nem mesmo que queria aquela foto. Só haveria uma maneira de ter estas informações: Reconhecimento facial.
Esta história é apenas a ponta do iceberg para algo muito maior que está surgindo bem na nossa frente e que nem estamos nos dando conta. Estamos na eminência de um totalitarismo tecnológico, em que governos e empresas saberão quem somos, o que pensamos, fazemos, quanto ganhamos e até nossos segredos mais profundos. Parece apocalíptico? Teoria da conspiração? Na verdade é algo bem real, e que não vai acontecer, e sim já está acontecendo.
Citaremos aqui as tecnologias que já existem, ou que já estão sendo exploradas com o objetivo de saber tudo sobre você.
Trapwire
Algo que chocou o publico foi vazamento de informações ao site Wikileaks que revelaram ao publico a existência de um sistema chamado Trapwire, desenvolvido por uma empresa dirigida por figurões da CIA e do Pentágono, o sistema consiste em um moderno sistema de reconhecimento facial que funciona em câmeras de rua (Como aquelas nos postes do seu bairro). O sistema é interligado a uma central que monitora todas as câmeras instaladas. O objetivo deste sistema é monitorar os próprios cidadãos americanos, identificando quem é a pessoa que aparece no vídeo, e assim o governo tem completo controle de quem está fazendo o quê e quando. O sistema parece ter tido especial utilidade durando os distúrbios do movimento “Occupy”, onde várias câmeras “estranhas” foram instaladas próximas aos locais de conflito. Um sistema similar parece ser usado na China, onde pessoas evitam se agrupar em demasia, pois o sistema pode desconfiar de tal atitude e monitorar as pessoas suspeitas.
Biometria no Facebook
O Facebook vem investindo pesado em reconhecimento facial, e este ano comprou a companhia israelense face.com que provavelmente possui o mais eficiente sistema de reconhecimento facial do mundo. Provavelmente você já foi marcado em alguma foto no Facebook, mas o que você talvez não saiba é que quando alguém marca seu rosto em alguma foto o Facebook guarda seus dados biométricos em uma base de dados especifica. Não adianta desmarcar as imagens, pois os dados já foram guardados e ficarão com o senhor Zuckerberg para sempre. Atualmente a Alemanha está investigando esta atitude, e quer que o Facebook destrua esta base de dados. A precisão do reconhecimento facial do face.com chega à taxa de 0.91 de acordo com alguns estudos, isto já seria mais do que suficiente para alguém tirar uma foto sua na rua e achar você no Facebook com mais de 90% de acerto.
O Google sabe o que é
O Google acaba de ganhar a patente sobre uma tecnologia para reconhecimento de objetos em vídeos, sem necessidade de input humano. Se você fizer um vídeo no corcovado, ou dirigindo um fusca 78, o Google vai saber que objetos são estes. A mesma tecnologia poderá ser aplicada a fotos, e lembrando que o Google é o dono do Street View, vai ficar extremamente fácil de saber onde você estava quando tirou aquela foto pra lá de Bagdá (Mesmo não sendo em Bagdá).
Você está sendo grampeado
Algo que poucos sabem é sobre uma regra que é aplicada a telefonia no Brasil e em vários países. No caso especifico do Brasil, todas as companhias telefônicas devem manter por 30 anos a gravação de todas as conversas telefônicas efetuadas, ou seja: Tudo que você falou, fala ou falará ao telefone vai ficar gravado podendo ser consultado em caso de necessidade pela lei. Mas a coisa pode ir muito além como demonstrou Malte Spitz em uma palestra ao TED. Na Alemanha, por exemplo, as empresas têm de gravar e manter por seis meses tudo o que você faz com seu smartphone como envio de mensagens, voz, posição, dados, etc. Com estes dados é possível saber onde você está, onde costuma ir aos sábados, com quem fala frequentemente, onde dorme, e com quem dorme todos os dias.
Dados, dados, dados
Kevin Johnson, 29 anos, morador de Atlanta teve seu limite no cartão de crédito diminuído pela operadora American Express. Um dos motivos alegados para isto de acordo com a operadora é que clientes que compravam frequentemente em um mesmo estabelecimento que Johnson, possuíam um histórico ruim de pagamentos.
Uma tecnologia relativamente nova chamada “Big Data” vem atraindo a atenção das empresas. Hoje com o barateamento dos discos rígidos e processadores, guardar e analisar dados ficou extremamente barato. Antes as empresas tinham que decidir previamente que dados guardar em seus sistemas como valores de vendas, dados do cliente e uma gama restrita de dados, o que mudou radicalmente com os novos tempos onde os dados são guardados independentes da sua natureza no melhor estilo “guarde primeiro, pergunte depois”. Uma das estrelas desta nova onda é um software chamado Hadoop que foi inspirado no modelo usado pelo Google, e que é usado largamente por quase todas as empresas que possuem volumes gigantescos de dados como Oracle, Twitter, Facebook, Microsoft e tantas outras. Há alguns meses atrás fui dar uma olhada em uma destas soluções, e a empresa fornecia um ambiente para testes com nada maia nada menos do que todos os dados e páginas existentes na web possíveis de se coletar e indexar. Neste ambiente você poderia explorar padrões de dados, tendências, etc. É assim que um supermercado sabe que pessoas que compram um queijo da marca X tendem a comprar 30% a mais de um vinho Y por exemplo.
Em 2010 o site Okupid colocou em seu blog um artigo chamado “Coisas que pessoas brancas gostam de verdade”, onde o site descobriu que era possível determinar a etnia, cor da pele e idade de uma pessoa, apenas baseando-se nas palavras que esta usava ou deixava de usar. Tudo o que escrevemos e colocamos na internet pode desta forma ser avaliado e facilmente determinar nossa religião, preferências eleitorais, sexuais e o que mais for de interesse dos governos e empresas saberem.
Estas foram apenas algumas das tecnologias mais contundentes no que se refere a nossa privacidade. Existem diversas outras tecnologias que não citamos neste artigo que já ficou bem grande. O que é preocupante com este tipo de tecnologia, é qual o uso de tamanho controle que governos como o nosso poderiam fazer, e é triste concluir que se a Stasi tivesse este aparato por exemplo, talvez o muro de Berlim não tivesse jamais caido. Cuidado, eles já sabem de tudo.
Fontes:
– radar.oreilly.com/2012/08/big-data-is-our-generations-civil-rights-issue-and-we-dont-know-it.html
– www.guardian.co.uk/commentisfree/2012/aug/15/new-totalitarianism-surveillance-technology
– news.cnet.com/8301-1023_3-57502445-93/google-patents-video-tech-that-knows-what-its-looking-at/
http://www.buzzom.com/2012/08/german-official-asks-facebook-to-delete-biometric-profiles-of-its-users/
– www.youtube.com/watch?v=_jtAnlejBs4